6.08.2007

Bisbilhotice Pura

Pra que tanto espaço, afinal?

Desde os meus três anos de idade eu reclamo do meu quarto. Ele é pequeno demais. Sempre quis ter um daqueles pufes enormes, mas era ou ele ou eu. Ou então a teoria da física de que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo seria uma grande mentira. Mas a teoria é verdadeira, e eu nunca pude ter o tão desejado pufe.

Quinze anos de insatisfações e eternas reformas para tentar fazer com que o quarto pareça um pouco menos minúsculo, eu enfim me conformei. Isso aconteceu depois de eu ler a reportagem de uma mulher que, tentando aproveitar ao máximo o seu terreno, construiu uma casa de três andares com menos de dois metros de largura. A responsável por essa façanha é a dona Helenita, 43 anos.

A tão esguia casa não poderia estar num lugar melhor: Madre de Deus, a menor cidade da Bahia, com apenas onze metros quadrados. Discrepante seria uma mansão no centro dessa cidade, isso sim.

São dois metros de largura que sustentam duas salas, uma cozinha, três suítes e uma varanda. Mais peças que muito apartamento luxuoso de Porto Alegre. Realmente a dona Helenita tem uma grande noção de espaço, e de como aproveitar cada cantinho. Ela vive com o marido, três filhos, a mãe, a irmã e um cachorro.
Há uns anos, a pseudo-engenheira estava desempregada, e pensou em construir uma casa que, alugada, seria uma boa fonte de renda. O problema não era os materiais pra construção, e nem pessoal pra botar o projeto em pé, mas sim o terreno disponível. Ou melhor, a nesga de terreno.
O pedreiro, certo de que estava sendo contratado por uma louca a fim de satisfazer algum fetiche, construiu os três andares a contra-gosto, e apostando que não daria certo. Uma vez de pé, a casa que tem a largura um pouco maior que a porta de entrada, os móveis apresentaram outro problema: tiveram de ser desmontados para entrar.
“Foram dois anos de luta”, diz a proprietária, exausta após todo esse tempo tendo que, não só sustentar o projeto, como convencer cada pessimista que acha que casa tem que ter alguns vários metros de largura. Ela provou que bastam dois.
Atualmente, a casa antiga (com menos cômodos, vale ressaltar) é que é alugada, e faz a renda familiar. Aliás, dona Helenita e os outros que moram na já folclórica casa, não vendem nem alugam a moradia por nada. Afinal, já virou ponto turístico do lugar que ficou mais conhecido como “a cidade da casa de dois metros de largura”.
Não satisfeita, a dona desafiadora das leis física tem planos para construir um quarto pavimento, para ser a área de lazer familiar, com churrasqueira e tudo.
Agora, além de achar meu quarto uma imensidão sem fim, me inveja a tal área de lazer. O meu desenxabido prédio é tão inútil que nem churrasqueira tem. Que dirá ser ponto turístico...
Clarissa Londero

2 comentários:

Anônimo disse...

pra quê churrasqueira? teu prédio tem o andar -1. isso também é ponto de turismo.

Clarissa Londero disse...

hehe, é verdade. meu prédio tem seu valor!